Luxo aspiracional e consumo de luxo
75% do consumo do luxo vem da classe média aspiracional. Será mesmo?
3 em cada 4 compras em categorias como moda, acessórios e beleza são feitas por consumidores de renda média. Mas em um setor que também inclui imóveis, joias, arte, carros, educação e experiências exclusivas, vale perguntar: de qual luxo estamos falando? Quem são esses consumidores? De qual luxo estamos falando?
Luxo de acesso e luxo estrutural
O luxo de acesso é onde o sonho se materializa em objeto. Está na vitrine, nos editoriais, nos influenciadores. É desejado por milhões, construído em camadas simbólicas e sustentado por esforço. Cada item carrega mais do que valor de uso — ele representa uma narrativa de chegada, de pertencimento, de conquista visível.
É nesse território que as marcas constroem desejo coletivo e alimentam uma base fiel, que não sustenta o luxo em termos financeiros absolutos, mas que o mantém culturalmente vivo e socialmente relevante.
Entre acesso ou estrutural, não há apenas diferenças de preço, mas de mentalidade, temporalidade e função.
Luxo de acesso alimenta o desejo coletivo e o senso de pertencimento. Luxo estrutural estabelece fronteiras, status e continuidade de poder.
Quem são eles?
Eles ganham entre US$40 mil e US$150 mil anuais e estão em todo o mundo: de Nova York a São Paulo, de Seul a Milão.
- Profissionais liberais, empreendedores, jovens executivos, duplas de renda familiar.
- Fazem um esforço consciente para consumir luxo: parcelam, economizam, planejam.
- Vêem o luxo como conquista pessoal e sinal de ascensão. É sobre pertencer a um universo de valor simbólico.
Para esses consumidores, uma bolsa de ou um perfume de luxo não é apenas um objeto. É uma vitória, um marco. O luxo é o prêmio visível por cada etapa vencida.
Em 2024, 50 milhões de consumidores aspiracionais saíram do mercado de luxo por pressão econômica. Foi a primeira retração significativa desde 2008.
O que parecia uma base estável revelou-se volátil. A fidelidade está lá, mas o orçamento também fala alto.
A classe média aspiracional é extremamente fiel. Acompanham lançamentos, entram em listas de espera, compram com constância. São os grandes divulgadores das marcas de luxo nas redes sociais.
A classe alta movimenta cifras expressivas em poucas compras.
A classe média mantém o pulso do luxo cotidiano, mas não sustenta sua estrutura.
Mas afinal, o que sustenta o luxo?
O luxo não é sustentado por quem compra mais, e sim por quem ancora o prestígio da marca em níveis altíssimos. É essa coexistência — desejo difuso e capital concentrado — que garante a força do sistema.
De um lado, o volume que torna o luxo visível e desejado. De outro, o valor que o mantém inacessível, raro, sedutor.
E no meio disso, a intensidade emocional que constrói comunidades apaixonadas em torno das grandes marcas.
O verdadeiro diferencial das marcas de luxo está no equilíbrio entre projeção e permanência.
A classe média movimenta 75% das compras em categorias de acesso como moda, beleza e acessórios, ampliando o alcance e a relevância cultural das marcas. A classe alta ancora o valor simbólico e financeiro do setor, sustentando as categorias de maior prestígio.
Uma expande a narrativa.
A outra garante sua permanência.
É nesse entrelaçamento que o luxo revela sua sofisticação estratégica — unindo desejo amplificado à raridade sustentada.
A sua marca está falando com quem sonha ou com quem sustenta? Ou melhor — está sabendo ouvir os dois?
Tamara Lorenzoni é consultora de negócios especialista no mercado de luxo e alto padrão.
Com formação internacional pela Domus Academy (Milão) e Regent’s University (Londres), atua com pesquisas de mercado, planejamento estratégico e gestão de marcas. No setor de hospitalidade, apoia hotéis, resorts e propriedades exclusivas no desenvolvimento de experiências diferenciadas, reposicionamento de marca e estratégias de encantamento para o público de alta renda.
Mais Publicações
Os produtos de luxo não competem no mercado pelo preço
Collabs no Luxo: Estratégia ou Saturação?
As colaborações entre marcas estão cada vez mais presentes, mas será que elas ainda têm o mesmo impacto no mercado de luxo?
O poder da exclusividade: Como as marcas de luxo usam a escassez como estratégia de negócio?
As marcas de luxo sempre tiveram uma atração muito especial para os consumidores. No entanto, algumas peças são muito difíceis de adquirir, mesmo que não falte dinheiro. Qual
O Brasil na Rota do Luxo
O Brasil atualmente se destaca como um dos principais players globais do mercado de luxo, e as grandes marcas olham cada vez mais para o país.
O que aprendemos com o cenário de Luxo em 2023?
Embora a incerteza global sobre as tensões geopolíticas e as perspectivas macroeconômicas tenham persistido ao longo do último ano, mercado de luxo demonstrou a sua surpreenden
CNBC: O legado de marcas icônicas
Em entrevista ao programa "Marcas Icônicas" da CNBC, Tamara Lorezoni fala sobre a tradição e o legado de marcas de luxo, como Moët & Chandon e Lancôme.

